O final do sexismo?

Muito foi dito sobre homens e mulheres e a igualdade de géneros. Mas, à medida que se tenta lutar por igualdade, estamos realmente a honrar a diversidade inerente a cada género? Como é que podemos criar sociedades colaborativas em vez de competitivas no que toca à diferença de género?

O Papel dos Pais e o Despertar Emocional

Os pais têm um papel de liderança no que toca a este tópico, porque o que quer que seja que a criança experiencie em casa, tenderá a levar para a vida adulta. Crenças e comportamentos são herdados na família ao longo do dia-a-dia através de anos e anos de crescimento. À medida que estamos a despertar para as nossas necessidades emocionais e compreendemos que os seres humanos são mais do que o corpo físico que se vê com os olhos, o papel que as emoções têm na vida das pessoas, no comportamento geral e até nas normas culturais, está a tornar-se mais claro. À medida que este despertar toma lugar entre as gerações mais novas, tais como os millennial, a questão que colocamos é como é que os pais podem guiar seja quem for se não são capazes de compreender e lidar com os seus próprios estados emocionais?

Se, até hoje, as gerações estavam desconectadas do seu compasso emocional, como é que os pais podem assistir seja quem for a preencher as suas necessidades emocionais quando não conseguem tratar das suas? De facto, é frequente os pais terem filhos à espera que isso os faça felizes (ou esperando que eles sejam a resposta para preencher e suprir as suas carências). Ser-se sensível à gestão emocional é uma pedra fundamental para compreender como é que os dois géneros são inerentemente tão diferentes.

Ciclos Naturais

Nas últimas décadas, especialmente depois da revolução industrial, têm vindo a ser oferecidas mais e mais opções a cada ser humano. Criaram-se sociedades recheadas de oportunidades para que ambos os géneros pudessem ser integrados e bem sucedidos. Contudo, apesar de esta ação ser positiva do ponto de vista em que se estava, baseava-se numa premissa falsa, de uma sociedade onde a produção era (e é) exigida em ciclos de 24 horas e todos deveriam ser igualados por esta condição.

O ritmo natural dos homens e das mulheres é diferente devido às suas características biológicas. Os homens funcionam em ciclos diários, de acordo com o sol. Tal significa que o homem médio acorda diariamente iniciando um novo ciclo com o mesmo tipo de energia. As mulheres, por outro lado, funcionam em ciclos mensais, de acordo com a lua. Portanto, para as mulheres, a energia varia ao longo do mês. Isto significa que o ciclo energético da mulher toma o tempo de um mês, ao passo que o do homem toma o tempo de um dia.

Apesar de esta diferença não parecer relevante e ter sido atirada para o lado por, literalmente, toda a gente, em nome do progresso, a realidade é que este ponto é chave para entender cada género e criar condições harmoniosas onde todos podem ser bem sucedidos. Tudo começa por ver as diferenças como algo positivo e enriquecedor em vez de um buraco a mitigar. Analisar a educação que estamos a oferecer tem algumas das chaves para solucionar este tópico.

Meninos

Os meninos são ensinados a estarem desconectados das suas emoções. A mensagem recorrente que enviamos consistentemente aos nossos rapazes é que eles não podem demonstrar as suas emoções, como se fosse errado ou feminino ou inadequado estarem em contacto com o seu estado emocional. Isto é violência mental, visto que todos os seres humanos experienciam emoções e deveriam, portanto, estar totalmente conscientes do quê que a energia das emoções está a transmitir. A educação deveria não só ensinar essa conexão, como também ensinar métodos saudáveis de expressar essa energia.

Quantas vezes ouvimos coisas como “age como um homem”, “não chores como uma menina” ou “não sejas coninhas”? Esta falta de conexão emocional gera emoções reprimidas e suprimidas que estão na base de atos violentos. Para além disso, este tipo de expressões retratam o lado feminino como fraco ou inferior, implantando essa ideia na cabeça destes jovens seres humanos. As emoções necessitam escapar de alguma forma e se nós não ensinarmos os nossos meninos a expressarem essa energia de forma saudável, ela acaba por acumular e estourar. A independência das nações foi feita à custa da morte dos meninos. Os homens têm as maiores taxas de suicídio e de violência contra terceiros. Desta forma, é muito importante que a educação permita que os meninos tragam tudo cá para fora e se expressem através do movimento, do exercício físico, das artes ou de outras formas que sejam saudáveis. Os meninos precisam de mais consciência emocional e conexão.

Meninas

As meninas são ensinadas a serem “respeitáveis” e isto pode ter uma variedade de significados de família para família e de cultura para cultura. O principal aspecto que está subjacente à educação das meninas é a falta de confiança. As meninas não são ensinadas a serem suficientemente auto-confiantes para falarem, para se expressarem através de palavras ou ações, para expressarem o seu corpo e se conectarem com ele. Tal deve-se não só a convenções familiares, mas também ao que as mulheres ensinam e modelam a outras mulheres. As crianças pequenas mimicam o que vêem e seguem o comportamento e exemplos que observam. E nós – como sociedade – nem nos apercebemos que estamos a liderar pelo exemplo que damos dia após dia com as nossas palavras e as nossas ações.

Para um menino está tudo bem em brincar com o pénis. É considerado um ato normal de exploração do corpo, uma fase que a criança atravessa. Contudo, para a menina, tocar na sua vagina ou simplesmente levantar a saia, é algo vergonhoso e imediatamente admoestado e proibido. Ela é ensinada a ser silenciosa, a esconder-se, a ser retraída. Não existe espaço para o auto-conhecimento (incluindo a conexão com o corpo). Muitas vezes o que a menina diz não é validado ou não lhe é dada importância e ela é mais elogiada pela sua aparência. Isto está presente nos meios sociais, na publicidade, nos filmes, na televisão. Está basicamente por todo o lado. Desta forma, as meninas aprendem que o seu papel é servir propósitos decorativos. A tarefa é particularmente mais desafiante porque vem de ambos os géneros, portanto tanto homens como mulheres perpetuam este tipo de cultura, desconectando as meninas da sua natureza à medida que elas tentam imitar os adultos que as rodeiam. As meninas precisam de mais auto-confiança e de se sentirem livres para explorar e se conectarem com o seu corpo e consigo próprias.

Educação Integral

Há três aspetos da educação que precisam ser trabalhados de forma a mitigar as consequências nefastas das diferenças de género:

Na Família

  • Adoptar um discurso positivo na forma de educar. Usar expressões de estado em vez de permanência (estar em vez de ser). Evitar expressões e piadas que diminuam um dos géneros ou que associem determinados aspetos a um dos géneros.
  • Promover afecto e toque como abraços e beijos entre as famílias, especialmente com os meninos.
  • Dar às crianças espaço para expressarem as suas emoções livremente, permitindo que essa expressão seja considerada normal, sem julgamento ou condicionamento.
  • Tratar os meninos e as meninas de forma igual. Ajudá-los a verem o seu corpo como algo natural, não como tabu ou como fonte de pecado com necessidade de se esconder. Não basear os elogios à volta da beleza ou aspetos externos, especialmente para as meninas, em vez disso, focar em integridade, desenvolvimento, expansão, a maneira de estar e as capacidades que a criança apresenta.
  • A menstruação não deve ser vista como um tabu. Deve ser algo natural e até um motivo para celebrar a saúde e a vida.

Na Escola

  • Gerar um ambiente de aprendizagem que promova todos os aspetos mencionados no caso da família.
  • Ensinar os diferentes ritmos e ciclos inerentes a cada género. Falar destes aspetos de forma natural. Isto só pode ser atingido com um trabalho prévio em casa, nomeadamente através do exemplo.
  • Criar um espaço seguro para as crianças expressarem as suas emoções, onde elas podem expressar quem são e onde diferentes temas podem ser debatidos como algo natural e como parte de ser humano.
  • É importante não rotular as crianças em certas actividades ou comportamentos ou disciplinas de acordo com o género.
  • Trabalhar a auto-consciência e ajudar as crianças a tornarem-se adultos conscientes. Usar ferramentas tais como a meditação para as ajudar a conectarem-se com a sua essência, promovendo hábitos mentais saudáveis.

Na Sociedade

  • Investir em sociedades adaptadas ao ritmo de todos os cidadãos. Instigar respeito pela diversidade e contribuir para a integração da diversidade na forma como a sociedade está estruturada.
  • Igualar a proteção da paternidade e da maternidade.
  • Socialmente e culturalmente diluir os papéis de género: todas as pessoas são necessárias, toda a gente é uma parte de um todo, todos podem fazer seja o que for, desde que haja respeito pela sua própria natureza e equilíbrio natural.

Respeito pela Diversidade

Conclui-se assim que uma das soluções chave seria a educação integrativa onde há respeito pela diversidade em vez de igualdade a todo o custo. Isto caminha de mãos dadas com a demonstração para os mais pequenos, pelo que famílias e sociedade devem liderar pelo exemplo. Tal significa que cada ser humano abraça a sua essência e está confortável com isso. À medida que trabalhamos o respeito pela diversidade de géneros, assumimos a diferença e valorizamo-la, celebramo-la. Nós somos melhores por sermos diferentes. É isso que torna as nossas sociedades ricas, é isso que faz com que a nossa espécie prospere!

 

Este texto foi escrito com a cooperação de Teresa Sousa, uma Professora Portuguesa, Ambientalista e Activista que mora na Colômbia

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