Eu e o Adrian conhecemo-nos no retiro de Kung Fu e foi incrível ter por lá alguém que toca guitarra. O retiro de Kung Fu era frequentemente um lugar cinzento e demasiado rígido e a força que a música traz, a maneira como impregna toda a energia circundante de leveza é extraordinária. Enquanto o Adrian tocava guitarra, eu cantava e acabámos por formar uma pequena banda, sendo que atuámos duas vezes em Pai. Passar parte do dia a cantar é uma terapia para a alma e para o corpo, pois a vibração produzida pela música nas nossas células é libertadora.
O Adrian é um fotógrafo e videógrafo profissional, mas, nos seus tempos livres, ele toca numa banda e compõe músicas (sendo que uma das canções que cantei nas nossas actuações era um original dele). Nesta entrevista, vamos mergulhar um pouco mais no poder curativo da música e o que significa na vida deste músico:
1 – O quê que te faz ADORAR a música? O que torna a música algo tão fascinante?
O que eu adoro na música é a maneira como conecta as pessoas. Podes estar sentado com alguém do outro lado do mundo a tocar um instrumento que nunca viste antes e que não compreendes uma palavra do que estão a cantar, mas se estás a sentir a música, instantaneamente sentes afecto, respeito e conexão com a outra pessoa.
Quando começas a escrever e a tocar música, isso traz-te para um outro nível. Para mim, não existe melhor sensação no mundo do que escrever uma canção de que me orgulho. Fascina-me o lugar de onde vêm as ideias e não apenas em relação à música, mas tudo – pintar, dançar, representar, etc. Noel Gallagher disse que os artistas se sentem atingidos por raios de luz criativos, mas há apenas um determinado número de raios, por isso se fores atingido por um, agarra-o com ambas as mãos! Eu acho que a inspiração criativa vem do nosso subconsciente e quanto mais deixarmos ir, mais abertos e criativos nos tornamos.
Algo muito próximo de compor música é actuar. Eu tive muita sorte em actuar para alguns públicos e por ter tido a oportunidade de tocar para milhares de pessoas ao longo dos anos. Eu nunca me senti tão vivo como quando salto no palco com a banda feita dos meus melhores amigos, a tocar canções que escrevi com centenas de pessoas a cantar comigo, é uma sensação incrível – especialmente quando se actua num festival com o sol a pôr-se, algumas cervejas na barriga e milhares de pessoas a cantarem o nome da tua banda! Eu tenho imensas memórias como esta que eu vou apreciar para sempre.
2 – Quando é que a tua paixão começou? Quais foram as tuas primeiras paixões em termos de bandas ou artistas musicais?
Eu comecei a ouvir música relativamente tarde, mas a minha verdadeira paixão por música começou quando eu ouvi os acordes de guitarra de “Money For Nothing”… aquelas notas deixaram-me maluco e agora que penso nisso, moldaram totalmente o meu futuro. Antes de o meu pai me ter introduzido aos Dire Straits eu ouvia algumas porcarias e desde aquele momento, o meu gosto musical mudou dramaticamente! A coleção de discos do meu pai era incrível e eu comecei a roubar constantemente os discos dele e a ouvi-los aos berros pela noite fora! Eu estava a ouvir cada vez mais e mais música baseada em guitarra como The Beatles, Queen, The Shadows, Cream, mas quando ouvi Jimi Hendrix eu tive a minha experiência transcendental número 2! Desde esse momento, eu sabia que queria aprender a tocar guitarra e senti um nível de dedicação a esse instrumento como nunca tinha sentido a nada antes. Eu construí um altar para o Jimi no meu quarto (com velas e tudo) e toquei juntamente com os discos dele o melhor que eu podia dia e noite na velha guitarra acústica do meu pai, até o meu pai me trazer uma guitarra eléctrica – literalmente o melhor dia da minha vida! Desde então, eu tenho tocada guitarra todos os dias e não consigo imaginar não a ter na minha vida.
Desde a influência do meu pai por me ter mostrado Jimi Hendrix, Queen, The Shadows, etc, as minhas influências musicais têm sido bem diversas, desde rock a rap, de country a reggae, de folk Irlandês a electro. Para mim, o género de música é quase irrelevante. Se a música, seja qual for o estilo, te faz sentir alguma coisa, tem energia, paixão e genuinidade, eu sinto-me naturalmente puxado para ela. Eu fui tocado por milhares de artistas ao longo dos anos, mas em termos de bandas que tiveram a maior influência em mim ao longo da minha vida foram: Jimi Hendrix, The Stone Roses, The Pixies, Rage Against The Machine, Beastie Boys, The Skattilites e Neil Young.
3 – Quais são as tuas principais referências musicais agora?
Isto é uma pergunta difícil para responder, sinto que era mais fácil quando eu era mais jovem pois eu parecia ter gostos mais específicos, mas agora varia de género para género e a maior parte do tempo é algo do passado… Eu não sou muito bom a manter-me atualizado relativamente a bandas! Dan, o baterista da nossa banda London Mountain Rescue é a minha principal fonte de inspiração musical atual, mantendo atualizado com o que as pessoas andam a ouvir atualmente! Eu posso estar literalmente a ouvir The Wu Tan Clang num dia, Sigrid no dia seguinte e The Black Keys no outro dia que se segue. Em geral, eu acho que o gosto das pessoas e o gosto dos jovens em particular estão a expandir o que é algo fantástico e torna muito mais excitante para as novas bandas que aí vêm.
4 – Como é que a música é tão poderosa no que toca a filmes e imagem?
Todas a grandes produções de cinema do nosso tempo não seriam a mesma coisa sem as bandas-sonoras que as acompanham. Imaginem Jaws (Tubarão) sem aquele loop de duas notas, Star Wars sem a épica obra-prima de John Williams, os Dinossauros não teriam tido vida se não fosse aquela música incrível, de novo por John Williams. The Piano, Gladiator, ET todos não teriam sido obra-primas se não fossem as respectivas bandas-sonoras, tal como o filme de animação da Pixar Up – é um clássico moderno e dramaticamente influenciado pela incrível música ao longo do filme.
A música tem tanto poder sobre a imagem em movimento que pode mudar totalmente como se percepciona e se conecta emocionalmente com um filme mesmo que no momento em que vejamos uma determinada cena não nos apercebamos disso conscientemente. Tentem esta experiência divertida em casa… Ponham uma das cenas tensas de Tubarão e carreguem no mute… depois ponham a música dos marretas e vejam como o poder da imagem instantaneamente é removido e torna-se algo completamente diferente. Eu sei que parece algo mesmo óbvio, mas a chave de uma música de filme incrível é que inicialmente nós não a notamos visto que se mistura tão bem com as imagens e nós somos apanhados no momento que nos transporta emocionalmente para outro lugar. É apenas após reflexão que se nota quanto extraordinária a música era!
5 – Qual é a tua perspetiva sobre aquela frase de Alta Fidelidade: “As pessoas preocupam-se sobre os seus filhos brincarem com armas e verem filmes violentos, que algum tipo de cultura violenta tome conta deles. Mas ninguém se preocupa com o miúdos escutarem milhares, literalmente milhares de músicas sobre coração partido, rejeição, dor, miséria e perda. Eu ouvi música pop porque me sentia miserável? Ou eu sentia-me miserável porque ouvia música pop?”? De que forma achas que a música afeta o humor das pessoas?
As pessoas viram-se para a música em tempos de stress emocional, é frequente ouvir ” eu não teria conseguido ultrapassar se não fosse esta ou aquela canção”, mas as pessoas também se viram para a música em tempos de grande alegria. Eu acho que a música acentua o humor das pessoas, se te sentes triste e pões algo de batida lenta a tocar podes-te relacionar com isso e abrir-te. Eu acredito que a música te pode tirar de situações emocionalmente difíceis como fez comigo em muitos momentos.
6 – Como é que podemos usar a música para melhorar a nossa saúde e bem-estar?
Apenas o acto de ouvir música pode melhorar a nossa saúde e bem-estar. A música tem a capacidade de mexer com emoções dentro das pessoas, por vezes sem que elas estejam completamente conscientes e pode chegar-lhes de uma forma muito profunda. A terapia musical é uma prática muito comum estes dias e é uma forma muito eficaz das pessoas se expressarem. Eu cheguei a trabalhar com crianças com necessidades e eu via a maneira como elas respondiam às sessões de terapia musical, e era tocante, e um outro exemplo da importância e força da música.
Desde a minha adolescência até hoje a minha vida tem sido dominada pela música e a música moldou cada parte da minha vida e quem eu sou. Eu estou grato ao meu pai por muitas muitas coisas, mas em termos musicais eu estou sobretudo grato por três coisas: 1. ter uma coleção de vinis brutal 2. inspirar a tocar guitarra e 3. introduzir os meus ouvidos à “Money For Nothing”, uma vez que sinto que a minha vida teria sido muito menos colorida e definitivamente menos divertida se eu não nunca a tivesse ouvido!
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