Há muitos anos que conheço esta mulher extraordinária: nos idos anos de Tuna, em que as noites académicas a cantar se prolongavam até ao raiar do dia, em que as dores de costas e os pés gelados eram esquecidos com gargalhadas e histórias de cumplicidade que nos ficariam (e ficaram) na memória.
A Florbela tem uns olhos enormes duma expressividade transparente e uma voz suave duma delicadeza sublime que transmite profunda serenidade. A sua presença transpira harmonia e equilíbrio, uma simbiose perfeita de doçura e firmeza. Com uma garra desmedida, a Florbela tem vindo a percorrer um percurso notável!
É com imensa gratidão que tenho a honra de partilhar a visão desta mulher inspiradora sobre a educação, a criação do Espaço Educativo INGAH, a aromaterapia e a sua própria experiência pessoal.
1 – O que é e como surgiu o espaço educativo INGAH?
O espaço surge de uma necessidade de criar uma resposta educacional a pensar na minha realidade familiar, nos meus filhos. Mas que depois percebi que era transversal a tantas outras famílias. Como já não me identificava com compartimentos e com caixas, percebi que a escola tinha essa tendência. E eu queria uma educação integral, uma educação transformadora, que as crianças possam depois ser adultos completos e serem respeitados naquilo que eles são e não terem de encaixar num pressuposto que alguém achou que deveria ser igual para todos. E para mim, mais importante do que o conhecimento que a escola possa trazer, eram as vivências que fazem aquilo que nós somos no presente. Então eu lembro-me daquilo que eu vivi na escola que me transformou naquilo que eu sou hoje e, depois, um conjunto de outras coisas, mas que eu tive muita dificuldade em desformatar e, então, a prever isto, e a pensar que somos tão diferentes e que a sociedade está num nível de evolução tão diferente, exijo isso para os meus filhos e para outras famílias que pensam da mesma forma.
Eu considero o espaço educativo também o espaço físico. Quando pensamos no espaço físico acabamos por ter acesso a uma antiga escola primária, simplesmente a escola tem as portas abertas, é circulável por dentro e as crianças saem para ir aprender no exterior também. E é uma escola aberta às famílias. As famílias entram, vão com os filhos ver o espaço onde eles estão e, na verdade, até me custa chamar-lhe escola, porque isto é um projeto alternativo. E quero um bocado fugir daquilo que é a escola, que é comparar com aquilo que é a escola atualmente, então nós demos-lhe o nome de Espaço Educativo por isso. Mas ao apresentarmos esta ideia na Câmara isto dava resposta a algumas crianças que, efetivamente, não se encaixavam no padrão e então a Autarquia Local cedeu-nos o espaço a pensar nestas crianças. Mas na verdade esta escola é para todas as crianças, só que ainda não há uma visão alargada desta necessidade.
2 – Como Mãe quais são os principais desafios que vês a nível de ensino tradicional e em que medida é que o INGAH vem dar resposta a esses desafios?
No meu caso particular, sendo mãe de três crianças e como elas são tão diferentes. O que acontece: se eu seguisse os padrões, os meus filhos teriam um encaixa, cada um no seu mundo e, na verdade, eles não seriam uma família. E, depois, tu queres respostas sociais para colmatares aquilo que tu não deste respostas desde o início. Eu tendo um filho com deficiências, colocava-o numa instituição para crianças com deficiências, muito bem, os outros vão para a sua escola. O que eu estou a ensinar a estas crianças é que o irmão tem de estar num sítio diferente. E, depois, eu sei que no futuro eles não se vão co-responsabilizar pelo irmão, porque tiveram essa educação.
Eu não acredito nisto!
Eu acredito que se as oportunidades podem ser para todos e individualizadas, então eles vão estar juntos. E, neste momento, eles estão juntos. O INGAH dá-lhes uma resposta junta.
É um investimento enorme da nossa parte, quer a nível financeiro – que é o que toda a gente pensa logo no início – sobretudo investimento de tempo e de luta e de energia por estar a fazer uma coisa completamente diferente e fora do normal. Porque estamos sempre a combater, estamos fora do padrão e, na verdade, o que eu sinto é estamos dentro do padrão, a questão é que as pessoas não chegaram lá e isto é desgastante.
Mas, para mim como mãe, é isto que faz sentido, para a minha família. E, depois há outras famílias, que faz sentido por outros motivos: ou porque querem uma educação integral, ou porque valorizam a questão das artes, da expressão e para que as crianças consigam desenvolver nas idades mais precoces uma forma mais lúdica e mais livre. Porque é isso, porque se começa desde pequeninos a encaixotá-los: são os números, são as letras…
E, depois, tudo o que é o desenvolvimento daquela criança a partir do brincar, a partir da imaginação, a partir da expressão, das emoções, isso não acontece. Da resolução de conflitos. As crianças têm de corresponder ao que alguém achou que era aquilo e eu acredito que estejam anos de estudo por trás, mas os estudos não avaliam todos os parâmetros. E há parâmetros que não estão nestes estudos. Aquilo que nós estamos a perder na infância, não estamos a ganhar em conhecimento, que é o que as pessoas acham, os decisores. E não está a acontecer. Estamos a perder sabedoria, porque deixamos de acreditar no que somos, deixamos de acreditar que somos capazes.
Nós quando temos de corresponder e, muitas vezes, não conseguimos corresponder, nós sentimos que não somos capazes, quanto mais as crianças. Esta é uma idade fundamental para as crianças acreditarem que são capazes, então elas vão construindo a sua capacidade e a INGAH é sobretudo isto é um espaço educativo onde as crianças têm tempo para crescer à sua medida e nós, adultos, vamos ajudando a que elas usem essas ferramentas que já estão ao dispor delas, pois foram elas próprias que sentiram necessidade de ir buscar e vamos tentar acrescentar. Mas sempre que a criança está preparada para isso e não quando nós achamos que ela está preparada para isso, não é algo que ela tem de corresponder aos três ou aos quatro ou aos cinco.
E isto é muito difícil, porque é quase individualizado, porque tu tens de ter pessoas incríveis, com muita percepção do quê que é para aquela criança, conhece-la muito bem, ser empático. É isto que a escola não tem tempo, os educadores também sentem que não têm tempo.
3 – De que forma é que as sociedades se podem expandir no âmbito da educação e abraçar novos modelos educativos?
A primeira coisa é as pessoas saberem que são capazes. Não terem medo de arriscar fazer diferente. Como temos uma geração de professores completamente formatados e que dependem de decisores que estão acima deles, é preciso que esses decisores lhes digam que eles precisam de fazer de forma diferente, que podem fazer de forma diferente, que têm tempo para fazer de forma diferente.
A meu ver, de forma ética, um professor deveria ser capaz de perceber que aquilo não está adequado e então fazer por outros trâmites, mas tinham de ser vários professores. As pessoas juntas criam soluções diferentes. Agora, é preciso trabalhar em equipa, é preciso apoiarem-se mutuamente, mostrarem que podem haver outras soluções e diversos níveis para as implementar. Agora, isto requer tempo, requer alguma mudança de padrões, requer decisões políticas centradas nas pessoas. Requer alguma confiança noutro sistema, ou que já esteja implementado noutros países ou que se teste de novo, sem ter medo de errar. Eu acho que é sobretudo isto: sem ter medo de errar. Eu vejo muito as desculpas, sobretudo se confrontas um educador ou um professor, ele tem tendência a culpar-se, porque não consegue, porque o diretor não deixa, porque na escola não é possível mudar. Cada um tem de assumir a sua responsabilidade e fazer a sua parte.
4 – O INGAH tem já alguns casos de sucesso, em que medida é que o INGAH conseguiu dar resposta às necessidades específicas de determinados alunos? Quais são os factores determinantes para esse sucesso?
Todos são casos de sucesso, porque o crescimento daqueles miúdos é incrível! E a forma como eles falam de temas que, para a idade deles, normalmente nas crianças isso não vem à baila é incrível! E tu vês o quão transformador isso é, por exemplo, teres uma criança a falar não só do ciclo da água, mas a saber qual é a verdadeira importância da água. Imagina, isto para aliar ao conhecimento, tens a questão do pensamento crítico, o porquê e o quê que é possível nós fazermos. Só para teres ideia, no caminho para o INGAH, o meu filho do meio perguntou-me porquê que estavam a abater as árvores. (Foi naquela altura em que as pessoas tiveram de limpar os terrenos.) E dizia-me “ó Mãe vai falar com o senhor da Câmara responsável, porque as árvores são aquilo que nos permite ter oxigénio para respirar. Porquê que eles estão a deitar as árvores abaixo?” Nesse dia, ele chegou perturbado à escola. Foram plantar carvalhos para a floresta, para colmatar um bocadinho, para já a ansiedade daquela criança que percebeu que algo não estava certo e, depois, para contribuir para a sustentabilidade ambiental. Portanto são coisas que aliam o conhecimento à vivência.
E, depois, temos a questão de meninos que se encaixam em algum padrão como autismo e que na INGAH são crianças livres e que podem ser elas próprias. E não tentar corresponder àquilo que as pessoas querem deles. É muito mais ao contrário: é observarmos aquela criança, o quê que ela gosta de fazer e como é que nós podemos ajudar que ela se desenvolva. E, no fundo, isto também transforma a forma de estar das crianças, aquelas crianças que tu na escola vês como agressivas ou que estão a ser contrariadas e, neste momento, tu vês que não são agressivas, as outras crianças convivem com elas em harmonia, porque são respeitadas. E as crianças observam o que os adultos fazem e depois replicam.
5 – A nível educacional quais são os principais desafios que as sociedades enfrentam e o quê que cada um de nós como cidadão pode fazer para colmatar essas lacunas?
Há muitas dificuldades a nível educacional e isso traduz-se nos “problemas” que toda a comunidade educativa tem vindo a sentir, quer a nível de comportamento das crianças, as questões do bullying, as questões dos suicídios, das altas pressões. Isto tudo é o reflexo das lacunas que nós temos a nível social e educacional, na minha perspectiva. Como nós estamos muito tempo, muitos anos, neste sistema formatado, acabamos por chegar ao final deste trajecto e acharmos que nós somos aquilo que passamos na escola e que vivemos na escola e que é desta forma que se faz. Só que tu depois chegas à realidade cá fora e percebes que o mundo quer exatamente outra coisa. Então isto é um grave stress quer para as gerações novas quer para as antigas. Eu tenho amigos que estão em cargos de empresas mais elevados e que estão responsáveis pela contratação de pessoas mais novas e que têm aqui um gap geracional gigante, porque os mais novos já querem outras coisas, estão a sair do padrão. Mas, na verdade, uma coisa muito confusa, porque vêm do padrão, querem sair do padrão, porque percebem que o mundo está diferente, vivem muito mais ligado ao mundo exterior através das tecnologias e, de repente, não conseguem ter ferramentas para e é uma grande confusão. Aí sim, aí geramos o caos, porque as pessoas não têm ferramentas para lidar com isto. Eu acho que nós apostamos muito nas coisas muito certas, naquilo que conhecemos em termos de educação, temos medo de errar, temos medo de fazer diferente, temos medo de correr riscos. Mesmo os pais que acreditam que a educação deve ser diferente, continuam a escolher para os filhos o sistema.
Enquanto nós não nos fizermos valer daquilo que nós acreditamos e fazer chegar essa mensagem de alguma forma, vamos ter sempre este gap de pessoas que depois ficam confusas. E que não conseguem dar resposta, nem ao mercado de trabalho, não é aquilo que querem fazer, tiraram determinado curso, mas não é aquilo, dão uma volta à vida, demoram imenso tempo para se encontrarem. E ficam num limbo do qual às vezes não consegue sair.
Os pais não se devem calar. Isto não pode ficar só por um problema de família, porque o meu filho não consegue… Os pais têm que usar os meios que estão disponíveis e chegar até às pessoas que nós escolhemos para nos representar. Pelo menos isto! Depois há uma soluçãozita que é tipo um rebuçadinho e as crianças ficam a enfrentar as mesmas questões. Nós precisamos de pessoas que falem e que tenham voz! Eu acho que é por aqui!
6 – Como começaste a usar os óleos essenciais e a implementá-los na rotina diária da tua família?
Não sendo assim qualquer coisa que está acessível a olho, ou seja, que não está disponível numa farmácia, ou num supermercado; veio de uma necessidade. Alguém que já usava, eu estava com uma dor de cabeça enorme e um amigo pôs-me umas gotas. E, claro, fiquei super interessada e querer saber o quê que era.
Isto teve um boom quando eu percebi que todas as questões a nível de saúde dos meus filhos ficaram resolvidas. E mesmo nossas. Por exemplo, aumentaram as suas defesas, deixaram de ficar doentes, a partir de certa altura de uso e eu comecei a querer saber mais e fiz algumas formações para saber como usar, fazendo o meu estudo também, fui pesquisando e, depois, como tudo, fui experimentando.
E a verdade é que as coisas resultavam com a minha família e como nos trouxe qualidade de vida e não tínhamos de depender de produtos químicos, eu fiquei apaixonada.
Antes de conhecer os óleos essenciais já tinha alguma relutância ao uso de fármacos. Quando conheci os óleos essenciais, foi a deixa para deixar de dependências. E todos nós passámos a usar nas várias problemáticas. O meu marido no desporto, eu nos problemas gástricos, os miúdos começaram a utilizar como uma forma de rotina para diferentes áreas: se estavam cansados, se era para dormir, às vezes um complexo celular. Depende também das fases do ano e das necessidades. Eles também já fazem as suas rotinas e põem na planta dos pés. E foi giro, eles saberem usar os roll-on neles próprios. Dei-lhes aquela autonomia de eles também saberem o que precisam para se tratar ou prevenir determinadas coisas. O que eu percebi é que também ia de encontro à minha filosofia, eles têm idade para perceber o que sentem no corpo e o que precisam para ajudar o corpo a regenerar e isso fascinou-me.
E eu também uso na escola! Ontem tive um menino lá super caído, tinha estado a semana toda em casa com gastroenterite, com vómitos e diarreia, e ontem ainda estava em baixo e eu apliquei-lhe a mistura para digestão e ele hoje estava outra criança, estava novo. É assim tu só comprovas quando usas e quando tens à mão para poder utilizar na circunstância. Se tu não tens, vais recorrer à farmácia.
O importante é resolver a origem e foi isso que com os óleos essenciais, eu percebi, tratar a causa e não o sintoma. Eu acho que os óleos essenciais nos trazem muito isto: é percebermos de onde vem o que estamos a sentir, e atuar na origem.
7 – Quais são os óleos must have para ti, sem os quais nunca vais em viagem ou sais de casa?
– DigestZen – para gastroenterites e qualquer problema digestivo.
– Balance – gosto muito deste é como estar na natureza, corresponde a 24h descalça com os pés na terra. No fundo, des-stressa. E ajuda a promover a qualidade do sono.
– Lavender – este é outro que também uso com frequência especialmente para dormir.
– Melaleuca – este para dores de garganta ou qualquer questão do sistema imunitário.
Também levaria o:
– Frankincense – para promover serenidade e regeneração celular.
– InTune – que uso muito com os miúdos para concentração.
8 – Podes falar-nos um pouco do teu percurso até à criação do INGAH?
Eu considero que tive um percurso académico padronizado, embora as minhas referências tenham sido muito boas pelas pessoas que encontrei. Mas estive doze anos no mesmo colégio privado, porque os meus pais acreditavam nisso. Depois, entrei na faculdade, fiz engenharia de minas e ambiente. Já na altura a minha escolha foi por algo que fosse ligado à Terra, coisas palpáveis, coisas que eu pudesse mudar. Porque eu tinha muito essa ideia de mudar o mundo. Agora já não tenho. (risos) Já não tenho essa ambição. Tenho ambição de fazer aquilo que está no meu caminho, dar respostas. E então, fiz um percurso normal. Ainda fiz várias coisas dentro do que é suposto seguir-se: ser formadora, fazer o mestrado e cap de higiene e segurança no trabalho, estas coisas que me deram ferramentas e me ajudaram a perceber qual é que era a minha vertente. E, embora fossem áreas que eu gostasse muito de estudar, depois aquilo que é a realidade do mercado de trabalho já não se encaixava nos meus padrões. Pronto, o viver para o trabalho, a falta de equilíbrio entre aquilo que é a remuneração e aquilo que tu dás, por exemplo. A responsabilidade que tu tens e o retorno que tu tens disso. Então, eu achava que estava tudo assim um bocado desequilibrado. E quando nasceu o meu segundo filho, pronto a minha ideia era sempre ter alguma coisa, fazer alguma coisa que pudesse criar impacto, mas que não fosse aquele trabalho das 9h às 20h. Dar-me alguma liberdade para eu ser mãe. E é engraçado porque apesar de eu ter sempre defendido que as mães deveriam ter as mesmas oportunidades e trabalhar, eu – hoje em dia – percebo que é necessário dar às mães o tempo que elas precisam para ser mães.
Eu considero que é necessário dar tempo aos pais para educar, para nutrir as necessidades básicas de uma criança. Sobretudo a mãe, numa fase inicial.
À medida que vamos pensando nas coisas e tendo vivências diferentes, nós vamos tendo perspectivas diferentes. E, às vezes, até porque nos escapa um pormenor. Esta coisa da igualdade, não é igualdade, o que nós queremos é “equalidade”. Que tu possas atingir os teus objetivos, se precisas de um banco maior, nós damos-te um banco maior. Agora, não podes dar o mesmo banco a duas pessoas diferentes, não é? Não podes pedir a um elefante para subir a uma árvore.
Eu não quero ser mãe a correr. Eu já fui mãe à pressa. Já fui! Eu já vivi várias etapas, com a minha terceira filha foi incrível. Eu senti uma felicidade enorme! O meu primeiro filho, e mesmo no segundo, o teres de corresponder a tudo não te dá tempo para “responder”. Então tu ficas num stress tal que não consegues.
E isto mostrou-me que nós temos todos coisas diferentes e uma das vantagens é que tu hoje podes escolher o quê que tu queres fazer e como queres fazer, onde é que tu queres trabalhar e de que forma.
Políticas sociais que têm de ser pensadas. Há muitos países que nos dão exemplos disso.
É preciso romper com estes padrões. Isto é tão transversal. São padrões enraizados que nós não queremos mudar, é na educação, é nas políticas sociais, por isso é que eu considero que a INGAH sendo um projeto educativo necessita também de políticas sociais. Eu considero que é educacional e social, uma coisa implica a outra.
Eu no fundo queria ter um equilíbrio e questão de ter um filho que me fez questionar tudo aquilo em que assentou a minha educação foi incrível. Se calhar foi o despoletar de toda esta consciência, porque tu tens de repensar. Tu já não podes agarrar-te aos padrões, às crenças que tu tens. Tens de repensar as coisas. E quando tu tens uma criança que não pertence ao padrão, tu tens mesmo de virar as coisas ou então justificas a dizer mal do sistema para toda a vida, que é o que acontece na generalidade. No meu caso, o que eu tentei fazer foi dar a resposta que ninguém me dava, que eu não encontrei em lado nenhum para os meus filhos.
Então, no fundo, o que eu faço é empreendedorismo social e educacional, criando um projeto que dá resposta à minha família e outras famílias como a minha e outras tantas diferentes, mas de pessoas que acreditam nesta educação integral e transformadora e que vai transformar a sociedade. És a transformação que tu queres ver, claro que isto ainda demora tempo, as crianças ainda vão ter o seu crescimento.
9 – Quais são os teus valores e/ou mantras de vida?
Tenho alguns valores, que se foram transformando.
Neste momento, o que é chave para mim é o Respeito.
Parece cliché. Custa-me dar os valores em palavras, pois não conseguem justificar aquilo que me move. Mas, neste momento, o que eu sinto, se não te falar assim em chavões, é respeitar aquilo que eu sinto que é necessário para haver esta mudança. E eu sei que isso é através da empatia que tu crias com os outros, ou seja se tu nunca vês os outros na tua pele, tu não podes respeitar opções sexuais, opções de troca de género, por exemplo, opções de vida. Isto para mim é Respeito, com base em amor. É respeito com amor, pronto, não há uma palavra específica para isto.
E, depois, olha aprendi também a viver o dia-a-dia, usufruir de cada dia. Aprendi a respeitar-me, a saber dizer que não. Era uma das coisas que eu tinha muita dificuldade e que agora faço isso por respeito a mim e aos outros. Dizer que não, neste momento, para mim é uma grande vitória, por exemplo.
Outras coisas que me foram mudando, não são bem valores, mas é o meu fio condutor de vida, que também por exemplo envolve respeitar o tempo de cada coisa. Não querer as coisas tão rápido como eu gostaria, que era para ontem, que é uma coisa que me causava stress. Se eu te disser estas palavras: paciência e resiliência, isto pode englobar muitas coisas. No meu caso é isto, é saber esperar, não ter aquela ambição que seja rápido, saber que há um tempo certo para cada coisa. E, nisto, aprendi também a respeitar o tempo dos outros. Até no campo pessoal, por exemplo, se uma amiga tem um problema, o quê que eu queria: resolver, eu queria ajudar a resolver. E eu percebi que isso faz parte de um percurso que todos nós temos de passar e eu posso-te estar a dar alguma coisa para tu ultrapassares, mas tu saltaste uma etapa. Estás a ver? Eu tinha muito esta coisa do dar, do resolver e isto ocupava-me e eu percebi que era super giro e eu sentia-me super bem, ajudava outras pessoas e elas sentiam-se bem, eu sentia-me reconhecida, mas eu aprendi que cada pessoa também veio cá fazer o seu trajecto e nós estávamos todos a saltar.
Eu acho que estas quatro palavras são os grandes chavões. Respeitar e cumprir o caminho que eu vim cá fazer, sem apressar ou ter que saltar. Cada fase é o que tem de ser.
10 – De que forma é que ser Esposa, ser Mãe, ser Profissional, ser Ativista se encontram para ti? Como encontras equilíbrio entre todas essas facetas de ser Mulher com os desafios pessoais e profissionais atuais?
Não sei se encontro equilíbrio. (risos)
A minha base é a minha família, o meu marido e os meus filhos. Tudo o resto que eu faço é para garantir que tudo o que nos sustenta tem continuidade, o mundo, a educação, as políticas sociais, a transformação de pessoas. Portanto, elas co-existem e são sempre temas que eu trago para discussões em casa, discussões com amigos. Por isso é tudo muito transversal. Quando tu aceitas a tua base, tens de saber que aquilo é a tua prioridade. E eu ter tempo para eles: ser eu a ir levá-los, ser eu a ir buscá-los, ser eu a educá-los. Para o melhor ou para o pior, sou eu. E tudo o resto me permita satisfazer essa necessidade base de ser mãe, de ser mulher, de respeitar, de seguir o meu caminho, de não andar em stress. E pronto, não sei se existe um equilíbrio, mas para já elas conseguem co-existir. No dia em que eu tiver de abdicar de algumas coisas, vou abdicar. Da minha família e de ser mãe, eu nunca vou poder. Se tiver de abdicar de outras coisas, está tudo bem. Eu não sou uma ativista. Eu escolhi fazer ativismo. O que eu sou realmente é mãe de família e educadora. Essa é a minha grande prioridade. Não me defino pelas coisas que eu posso fazer, porque elas vão variando. Hoje é isto, mas eu acredito que amanhã pode ser outra coisa qualquer.
11 – E quais são os planos para o futuro?
Tenho muitos sonhos e tento fazer poucos planos, isto é, percebi que os planos matam a criatividade e então sonho muito com ter um espaço co-housing onde vou colocar a minha casa de madeira, continuar a apostar no minimalismo e saborear cada etapa com a tranquilidade necessária para poder estar disponível para criar as soluções em que acredito e que vou necessitando.
12 – Que últimas palavras de saúde e bem-estar gostarias de partilhar?
O que eu gostava para a Humanidade, para cada pessoa em particular, é que pudessem não usar máscaras, que pudessem libertar-se desses pesos e ser elas próprias e, para o bem e para o mal, teríamos pessoas mais verdadeiras e com mais essência. Isto era o que eu desejaria para cada pessoa.
Para a Humanidade em geral, gostava que nos mantivéssemos enquanto espécie, porque aquilo que andamos a fazer é capaz de isto ter de levar aqui um boom. (risos)
E depois, que nos respeitássemos e gostava também que soubéssemos de onde é que vimos e para onde é que vamos, sem coisa nenhuma, de mochila às costas. (risos)
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